Quando
exerci o cargo de Diretor Presidente da Escola de Serviço Público (ESESP) em
Vitória, no final do ano de 1999, deparei-me com uma situação inusitada. Após a
nomeação para o cargo, visitei as dependências da escola. Ao entrar na
biblioteca, não vi um livro, apenas computadores e estantes de aço viradas como
se fossem paredes.
Perguntei
à bibliotecária: - Onde estão os livros dessa biblioteca? Ela permaneceu calada
por alguns minutos e respondeu: - Doutor, a antiga diretora mandou tirar todos
os livros para dar lugar aos computadores.
Perguntei:
- Mas onde estão? – Meio sem graça, respondeu: - Nas estantes que o senhor viu
como se fossem paredes.
Educadamente,
determinei que as estantes retornassem à posição original com os livros
expostos. No dia seguinte, lá estavam os livros, catalogados, arrumadinhos,
tudo nos padrões de uma biblioteca, como manda a boa educação de uma escola.
Claro que a frase "como manda a boa educação de uma escola" é uma
metáfora, frente à marginalidade periférica em nosso estado. Leia-se: A
Literatura no Estado do Espírito Santo.
Dias
depois, voltei e perguntei à bibliotecária: - E qual o nome dessa biblioteca?
Ela fez que não entendeu: - Não entendi.
Reiterei
a pergunta: - E qual o nome dessa biblioteca? A resposta foi incisiva: -
Sinceramente, trabalho aqui há muitos anos e não sei! Diante do descaso, fiz uma
reunião com todos os professores, na esperança de uma resposta.
Pauta
da reunião: - Qual o nome dessa biblioteca? Ninguém soube dizer. Nem mesmo os
funcionários com 10, 20 anos de trabalho na escola souberam dizer. Nas minhas
atribuições, não gostava da palavra "determinar", mas determinei: -
Em uma semana, me tragam o nome da biblioteca. Uma professora até soltou: - Por
quê? Respondi: - Imagine a senhora, uma autoridade, ou mesmo um cidadão comum,
perguntando o nome da biblioteca? Como ficaria a nossa "cara"?
Bem, após busca daqui, busca dali,
enfim, veio o nome de Narciso Araújo e uma pequena biografia. Nasceu em Vila de
Itapemirim, Espírito Santo, em 6 de agosto de 1877, cursou o Pedro II e
bacharelou-se pela Faculdade de Direito, no Rio de Janeiro, onde participou
ativamente do movimento simbolista, retornando depois para sua cidade, onde
sempre viveu, sendo chamado "o solitário de Itapemirim". Foi deputado
ao Congresso Estadual do Espírito Santo, onde sua consciência ficou desiludida.
Recusou retornar ao Rio de Janeiro, a convite de amigos como Cruz e Sousa,
Nestor Vítor, Raul Pederneiras e Felix Pacheco. Preferiu viver entre seus
livros e publicando poemas em jornais. Em 1941, foi eleito "Príncipe dos
Poetas Capixabas" e teve editada uma série de suas poesias. Faleceu em 16
de abril de 1944. Seu tema fundamental é o amor, que tudo vivifica, expresso em
vivo sentimento, recorrendo constantemente ao apelo/referência ao tu
alocutário, sobretudo em seus sonetos.
Linhas finais: Fizemos a nossa parte.
Só não sei se a placa que mandei fazer e colocar na biblioteca está lá até
hoje.
Conheci a escola, mas não havia a biblioteca.
ResponderExcluirIsso vem ocorrendo pelos quatro cantos do pais. É é extinção dos livros!
ResponderExcluirUma pena. Como viver sem os livros?
ResponderExcluirEsse é o nosso serviço público!
ResponderExcluirNa verdade é um caso de polícia!
ResponderExcluirTrabalhei lá nesse ano e me recordo o fuzuê que deu quando o senhor pediu o nome da biblioteca. Rssss
ResponderExcluirNos tempos de minha escola havia filas nas bibliotecas. Era uma festa pegar um livro e levar para casa. Tempos bons!
ResponderExcluirÉ isso deve estar acontecendo em varias escolas. Sou poucas as bibliotecas com meia dúzia de livros.
ResponderExcluirQue gente sem senso!
ResponderExcluirE vivem reclamando por salários!
ResponderExcluirQue pobreza espiritual!
ResponderExcluirHoje a leitura já está deixando saudades!
ResponderExcluirQue formação tem essa gente?
ResponderExcluirÉ gente que nem. fez o Mobral e se diz professor!
ResponderExcluirEstamos no Brasil!
ResponderExcluirO desprestígio social do saber, no Brasil, é um fato. O que fazer para que - todas as camadas da nossa sociedade -, prestigiem o saber?
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