domingo, 17 de dezembro de 2023

Qual é o nome da biblioteca?

 


Quando exerci o cargo de Diretor Presidente da Escola de Serviço Público (ESESP) em Vitória, no final do ano de 1999, deparei-me com uma situação inusitada. Após a nomeação para o cargo, visitei as dependências da escola. Ao entrar na biblioteca, não vi um livro, apenas computadores e estantes de aço viradas como se fossem paredes.

Perguntei à bibliotecária: - Onde estão os livros dessa biblioteca? Ela permaneceu calada por alguns minutos e respondeu: - Doutor, a antiga diretora mandou tirar todos os livros para dar lugar aos computadores.

Perguntei: - Mas onde estão? – Meio sem graça, respondeu: - Nas estantes que o senhor viu como se fossem paredes.

Educadamente, determinei que as estantes retornassem à posição original com os livros expostos. No dia seguinte, lá estavam os livros, catalogados, arrumadinhos, tudo nos padrões de uma biblioteca, como manda a boa educação de uma escola. Claro que a frase "como manda a boa educação de uma escola" é uma metáfora, frente à marginalidade periférica em nosso estado. Leia-se: A Literatura no Estado do Espírito Santo.

Dias depois, voltei e perguntei à bibliotecária: - E qual o nome dessa biblioteca? Ela fez que não entendeu: - Não entendi.

Reiterei a pergunta: - E qual o nome dessa biblioteca? A resposta foi incisiva: - Sinceramente, trabalho aqui há muitos anos e não sei! Diante do descaso, fiz uma reunião com todos os professores, na esperança de uma resposta.

Pauta da reunião: - Qual o nome dessa biblioteca? Ninguém soube dizer. Nem mesmo os funcionários com 10, 20 anos de trabalho na escola souberam dizer. Nas minhas atribuições, não gostava da palavra "determinar", mas determinei: - Em uma semana, me tragam o nome da biblioteca. Uma professora até soltou: - Por quê? Respondi: - Imagine a senhora, uma autoridade, ou mesmo um cidadão comum, perguntando o nome da biblioteca? Como ficaria a nossa "cara"?

Bem, após busca daqui, busca dali, enfim, veio o nome de Narciso Araújo e uma pequena biografia. Nasceu em Vila de Itapemirim, Espírito Santo, em 6 de agosto de 1877, cursou o Pedro II e bacharelou-se pela Faculdade de Direito, no Rio de Janeiro, onde participou ativamente do movimento simbolista, retornando depois para sua cidade, onde sempre viveu, sendo chamado "o solitário de Itapemirim". Foi deputado ao Congresso Estadual do Espírito Santo, onde sua consciência ficou desiludida. Recusou retornar ao Rio de Janeiro, a convite de amigos como Cruz e Sousa, Nestor Vítor, Raul Pederneiras e Felix Pacheco. Preferiu viver entre seus livros e publicando poemas em jornais. Em 1941, foi eleito "Príncipe dos Poetas Capixabas" e teve editada uma série de suas poesias. Faleceu em 16 de abril de 1944. Seu tema fundamental é o amor, que tudo vivifica, expresso em vivo sentimento, recorrendo constantemente ao apelo/referência ao tu alocutário, sobretudo em seus sonetos.

Linhas finais: Fizemos a nossa parte. Só não sei se a placa que mandei fazer e colocar na biblioteca está lá até hoje.

 

16 comentários:

  1. Conheci a escola, mas não havia a biblioteca.

    ResponderExcluir
  2. Isso vem ocorrendo pelos quatro cantos do pais. É é extinção dos livros!

    ResponderExcluir
  3. Uma pena. Como viver sem os livros?

    ResponderExcluir
  4. Esse é o nosso serviço público!

    ResponderExcluir
  5. Na verdade é um caso de polícia!

    ResponderExcluir
  6. Trabalhei lá nesse ano e me recordo o fuzuê que deu quando o senhor pediu o nome da biblioteca. Rssss

    ResponderExcluir
  7. Nos tempos de minha escola havia filas nas bibliotecas. Era uma festa pegar um livro e levar para casa. Tempos bons!

    ResponderExcluir
  8. É isso deve estar acontecendo em varias escolas. Sou poucas as bibliotecas com meia dúzia de livros.

    ResponderExcluir
  9. E vivem reclamando por salários!

    ResponderExcluir
  10. Hoje a leitura já está deixando saudades!

    ResponderExcluir
  11. Que formação tem essa gente?

    ResponderExcluir
  12. É gente que nem. fez o Mobral e se diz professor!

    ResponderExcluir
  13. O desprestígio social do saber, no Brasil, é um fato. O que fazer para que - todas as camadas da nossa sociedade -, prestigiem o saber?

    ResponderExcluir