quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Felizmente, não está só!


Hoje, a sua companhia é uma boneca de pano, uma testemunha silenciosa do tempo escorrido como areia pelos dedos. Enquanto o Alzheimer desenha um véu sobre os rostos familiares, a boneca torna-se a confidente tranquila, uma presença constante em um mundo que se desvanece.
A boneca de pano é mais do que um objeto inanimado. Ela é um elo com um passado onde brincadeiras inocentes preenchiam os dias, um tempo em que risadas ecoavam pelos corredores da casa. A boneca, com seus olhos bordados e sorriso fixo, agora oferece conforto nas palavras não ditas e na familiaridade que transcende o esquecimento.
Os filhos observam com ternura enquanto a mãe acaricia a boneca, talvez recordando momentos em que cuidar de crianças pequenas era o cerne de sua existência. Em suas mãos, a boneca se torna um portal para uma época onde o mundo era mais simples, e as preocupações eram abraçadas com a inocência de uma infância distante.
A conversa entre mãe e boneca é uma dança sutil de gestos, onde as lembranças residem em abraços apertados e carícias gentis. A boneca, agora desgastada pelo tempo, ainda detém o poder de despertar um brilho fugaz nos olhos da mãe, como se um fio de conexão com o passado estivesse intacto.
Os filhos compreendem que, nesta jornada compartilhada com a mãe, a boneca de pano é mais do que um objeto de conforto. Ela é um elo entre duas eras, uma ponte entre o passado e o presente. Em sua presença silenciosa, a boneca oferece consolo, transformando-se em uma testemunha silenciosa das histórias que se desdobram na complexidade do Alzheimer.
Assim, enquanto a mãe tece suas memórias com fios delicados de lembranças efêmeras, a boneca de pano permanece ao seu lado, uma guardiã afetuosa em um mundo onde o esquecimento tenta apagar cada vestígio do que um dia foi. Juntos, mãe e boneca, dançam uma dança silenciosa, celebrando o amor que transcende as limitações do tempo e da memória."
Foto tirada na Praia da Sereia em Vila Velha.


 

4 comentários:

  1. Um texto triste de uma vida. Talvez seja o Alzheimer .

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  2. Sem palavras. Já passei por essa situação como minha querida mãe. Parabéns pelo texto. Que servi de exemplo para cuidarmos de nossos idosos.

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  3. Uma vida…. é triste!

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