domingo, 7 de janeiro de 2024

Barra Mansa. Profissão: Funcionário Público


 Crônica elaborado após a leitura do livro “Vovô Morungaba” de Galeão Coutinho.


Barra Mansa. Profissão: Funcionário Público.


Barra Mansa era a personificação do funcionário público. Como regra, tudo que almejava tinha um teto: Salário mínimo! Mas como sustentar a família, pagar água, luz, impostos, presentinhos? Claro que não sobrava um tostão em menos de 15 dias, e sofria nos outros 15 nas mãos dos agiotas, aumentando em 20% o desespero.


O desespero, por ser criativo, não diferia para Barra Mansa. Passava noites fazendo cálculos ou jogando as dívidas para o alto para pegar o “prêmio” que lhe caísse nas mãos e correr atrás do credor. No trabalho, ficava ansioso quando chegavam as férias, voltava no departamento pessoal, as vendia e continuava a trabalhar. Até respirava pouco para economizar energia!


Um belo dia, os colegas de trabalho o convidaram para uma festa. Ele até tentou dar alguma desculpa, mas o convite vinha do chefe, e  não aceitar seria ir para o olho da rua. Barra Mansa, pensando em agradar o chefe, foi em casa e pôs o único terno que guardava, do seu casamento. Contudo, não teve a mesma sorte com os sapatos. Tinha apenas um, e estava furado! Mas logo resolveu o problema: recortou um papelão e fez uma palmilha.


No dia seguinte, chegou no trabalho. "Que terno, Barra Mansa!" - falou um amigo. "Que belos sapatos!" - emendou o chefe. Todos saíram e foram para a tal festa, na verdade uma casa de jogatina. Quando a roleta começou a girar, ouviu-se: "Façam as suas apostas!"


Vermelho como um pimentão, Barra Mansa não sabia como agir, pois não tinha um tostão no bolso. Mas para não perder a postura que certamente levaria junto seu emprego, virou para um amigo e disse: "Meu Deus! A carteira ficou em casa! Sair daqui agora seria uma desfeita." Um outro amigo a seu lado, vendo o semblante pálido de Barra Mansa, emendou: "Toma aí 20 contos e joga, depois me paga." Mansa pegou a bola preta e jogou na roleta enquanto rezava pra tudo que é santo de olhos fechados. De repente... é Barra! "Fica pra próxima," gritou o bingueiro. "Façam suas apostas! Valor mínimo: 50 contos!"


Barra Mansa tentou simular um mal-estar, mas logo um amigo lhe deu um copo de uísque e falou: "Tome tudo, depois me paga!" Cada um começou a colocar os 50 contos na mesa, e Barra Mansa, no desespero, cutucou o colega que respondeu: "Toma aí, depois me paga." A jogatina seguia noite adentro: 70 contos! Agora o dobro! 140 contos... E tremendo, Barra Mansa ouviu do colega: "Tranquilo, depois você me paga."


Enfim, às 5 da manhã, todos se foram, aliviando Barra Mansa. O que ninguém sabia é que ele escondia no bolso 3 contos para pegar o bonde para casa. Que ironia do destino! Enquanto aguardava o bonde, um trombadinha se aproximou e falou: "Passa a grana!" Barra Mansa, pensando nos 20 km até sua casa, tentou argumentar: "Eu só tenho 3 contos para pagar o bonde!" O trombadinha respondeu: "Tá bom demais!" Agora, definitivamente, lá se foi Barra Mansa pelos trilhos a pé, mais perdido que cachorro em dia de mudança.

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